Desafios Sócioambientais: Um problema de “capilaridade”

 Estava fazendo uma anestesia para uma amputação de um paciente diabético que desenvolveu uma complicação conhecida como pé diabético.

Neste momento observei uma semelhança com os atuais desafios socioambientais globais. Sobre qualquer um desses assuntos, o problema é de “capilaridade”.

Nesta complicação do diabetes ocorre um problema naquele tubinho mais fininho, chamado de vaso capilar (fino como cabelo), onde o sangue distribui oxigênio e nutrientes às células do corpo, esta troca não é realizada e as células morrem. Tem sangue, mas o que ele traz não chega onde é necessário.

Fala-se muito em bilhões de Dólares, Euros ou Reais. Independente de serem dezenas ou centenas de bilhões, a eficiência no seu uso será baixa, pois muito destes valores ficarão nos caixas de governos e instituições financeiras para resgate e lastros bem como gastos na pompa, instalações, viagens e reuniões de representantes de governos e órgãos internacionais. Imagine uma carga tributária de 30% em cima destes valores, legal né? Irresponsáveis merecem dinheiro?

A baixa eficiência é por não ter capilaridade capaz de aplicar os recursos. Ou seja, os recursos não chegam à ponta onde são necessários.

As células são as pessoas.

Lamentável ver um evento como o Rio + 20 emitir um documento sem datas, sem metas, sem consenso. Típico de membros de governo e da política desacostumados a ter que demonstrar resultados. Se depender deles não vai dar em nada mesmo, no máximo superfaturamento.

Há vinte anos (ECO 92) os governos também foram levianos. Os progressos se deram em escalões mais baixos dos governos, instituições e iniciativas privadas responsáveis.

Um grupo que reúne prefeitos de cidades importantes do mundo chamado C40 parece querer um resultado melhor que este zero à esquerda gerado pelos governos nacionais e definiram metas de redução de emissões. 

Claro que teria um resultado muito melhor se a sociedade organizada atuasse, mas ocorrem dois problemas: O primeiro é que a sua participação foi tolhida e ignorada e a segunda, é que esta sociedade não foi treinada para isso. É óbvio, pois, educados, perceberíamos o poder que temos e quanto os políticos e alguns setores do governo não servem para nada.

Aí volto à questão da doença em que é melhor prevenir do que remediar.

O melhor gasto para este dinheiro é educar e treinar as pessoas para a democracia participativa, atuação organizada com foco estratégico para prevenir, corrigir e compensar os problemas sócios ambientais, melhor ainda, empreendedores socioambientais, que conhecem as verdadeiras regras do jogo.

Isso demora, talvez mais vinte anos, a partir de quando começar, o que ainda não ocorreu.

Lamentável é achar que sustentabilidade é apenas cuidar da emissão de CO2 e se perder na discussão se isso aquece ou não aquece.

O uso racional de recursos naturais é urgente (energia, água, solo, ar, etc.)

Resíduo não é só jogar por cima do ombro e ele some, ele permanece.

Sustentabilidade é simplesmente social e se estende em uma perspectiva temporal. Fala-se o termo ambiental para quem não consegue perceber que ambiental está dentro do social e vice versa.

E você? Tem opinião sobre isso?

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Gostou do tema? Sugiro a leitura dos seguintes artigos:


Rio + 20 e a Sustentabilidade no Brasil:
 
Sobre sustentabilidade muito se fala, mas o que podemos realmente dizer é que não sabemos nada, nem arranhamos o tema.

Sustentabilidade: Você conhece as regras do jogo?  – As pessoas falam muito sobre sustentabilidade e me deparo com diversas ações neste sentido. Isto ao mesmo tempo em que  alegra também me causa preocupação, pois existem alguns equívocos que podem tornar ineficaz e frustrante as ações atuais, levando ao descrédito esta causa.

O passo da responsabilidade – Frequentemente encontro nos meios de comunicação informações sobre Responsabilidade Sócio Ambiental que desinformam o leitor ou perdem a oportunidade de informar melhor sobre o assunto em questão.